World Building. Criação de Mundo. Essa é uma expressão que acabou se tornando muito usada por especialistas, autores e até leitores. Ela designa a criação de um universo literário responsável por dar o pano de fundo a um enredo. Esse universo literário pode ser real ou fantasioso. Mas o que é world building? É simplesmente criar um mundo e colocar os personagens ali dentro ou existem um número maior de nuances que não são visíveis à primeira vista.
O autor utiliza excepcionalmente bem o recurso da criação de mundo. Não basta apenas criar lugares interessantes com situações políticas diversas. É preciso fornecer minúcias sobre a população que habita o mundo que nem sempre os autores se dão conta. Antônio Luiz aborda diversos temas extremamente interessantes que tornam a sociedade de Crônicas de Atlântida muito interessante: a sociedade é escravocrata apesar de alguns desejarem realizar um movimento abolicionista; os mitos são muito presentes no cotidiano das pessoas passando pelo nascimento até o enterro; a magia é lidada com naturalidade apesar de alguns tipos de magia serem mais mal vistas do que outras; as festividades recebem uma atenção especial já que elas se integram à religião. Outros elementos narrativos são empregados que mostram como o autor pensou diversos pequenos detalhes que dão individualidade à obra. Até mesmo as formas de se referir ao próximo são importantes: todos os nomes possuem um sufixo que pode ser algo reverencial ou íntimo. Ou seja, o mundo é riquíssimo e mesmo após uma leitura bem calma e tranquila de minha parte garanto que não devo ter conseguido captar todos os detalhes.
Ao mesmo tempo em que representa um ponto forte da escrita do autor, ela é também a sua vulnerabilidade. O Tabuleiro dos Deuses possui uma narrativa lenta e difícil, que nem sempre recompensa o seu leitor. Ficamos presos em minúcias que não são tão importantes assim para a história proposta. O andamento da narrativa muitas vezes é interrompido para descrever um hábito ou um costume senzar, cari ou tlavatli. Não chega a ser um excesso de descrições, mas às vezes parece até algo dissertativo. O autor parece querer apresentar aspectos sociais por demais. Para quem não conhece o autor, ele é um colunista da Carta Capital, formado em engenharia e filosofia. Militante político já há várias décadas, aqui somos capazes de ver um trabalho que exigiu esforço e pesquisa de sua parte. Cada linha apresentada tem muita maturidade no seu conteúdo. Por isso, eu, como historiador, apreciei demais a leitura e queria eu que todo autor tivesse essa maturidade ao apresentar aquilo que circunda os personagens. Entretanto, o meu lado leitor não curtiu a leitura tanto assim. Senti que o autor quis apresentar demais aquilo que ele poderia ter diluído mais em outros volumes da trilogia ou até em contos. Só neste primeiro volume eu conseguiria enxergar temas e assuntos para muitos livros. E isso não se reflete em um direcionamento objetivo para a história.
O Tabuleiro dos Deuses é um livro muito competente com uma ambientação riquíssima. Infelizmente essa ambientação trabalha contra o livro em alguns momentos, provocando uma leitura lenta e pesada. Os personagens são bem construídos e o autor chegou até mesmo a dar uma importância maior aos personagens secundários. Alguns temas são tratados de forma harmoniosa dentro da trama sem exageros. Recomendo a leitura principalmente para aqueles que gostam de um world building competente e que se preocupa com minúcias.
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