27 de maio de 2013Antes de comentar a minha opinião sobre o livro, acho que devo oferecer um background sobre a obra e a autora. Sylvia Plath é a maior poetisa da língua inglesa. Além de "The Bell Jar" ou, no Brasil, "A Redoma de Vidro", ela também publicou coletâneas poéticas absolutamente aclamadas por leitores do mundo todo. Sylvia, infelizmente, como todas as grandes mentes criativas, possuía um forte instinto de autodestruição e lutou a maior parte de sua vida contra a depressão. A depressão é hoje conhecida como uma patologia grave, que afeta o sistema químico do corpo humano e por isso resulta em distúrbios de comportamento. Nos anos 1960 a doença não era conhecida e os estudos aprofundados estavam apenas começando. Apesar de receber a ajuda de alguns médicos, Plath se suicidou aos trinta anos de idade, deixando dois filhos ainda na primeira infância. A intensidade de sua depressão, o sentimento de confinamento e sua desesperança, estão intrinsecamente impressos em sua única prosa publicada "The Bell Jar". Onde ela narra a história de Esther Greenwood, uma jovem de vinte e poucos anos que vive o pináculo de sua vida acadêmica e profissional. Esther é talentosa, inteligente e extremamente dedicada aos estudos, mas certo verão, ao chegar a Nova York para o que seria a experiência profissional mais importante de sua vida, Esther começa a sentir uma forte sensação de isolamento. Esther cai cada vez mais em um estado de alienamento, que a separa do mundo real. O livro é um clássico da literatura mundial e feminista, explora temas como a liberdade sexual e independência feminina, a natureza da mente humana e o mais curioso, proporciona um vislumbre da mente extraordinária de Sylvia Plath.
Dito isto, vamos a minha opinião...
Ao começar a leitura de "The Bell Jar" o primeiro fato sobre a narrativa a chamar a minha atenção foi a voz incrivelmente contemporânea da protagonista. Esther é espirituosa, sarcástica e costuma adotar uma postura de equidade ao julgar os outros. A linguagem é sofisticada, não há muito como escapar de palavras rebuscadas simplesmente pelo fato de que a autora era uma poetisa e poetas são profundamente versados em sinônimos. Mas eu não vejo isso como um problema, já que a própria qualidade da narrativa e do monólogo interno da personagem é interessante o suficiente. O tom contemporâneo da obra me fez pensar "esse livro poderia estar sendo escrito hoje". Plath estabelece um contato estreito através de sua escrita, interagindo de uma forma vívida com o leitor. Talvez seja por isso que a leitura se torne tão viciante logo de começo.
Algumas pessoas leram "The Bell Jar" e odiaram a leitura, acharam o livro tedioso e abstrato demais para a compreensão geral. Eu discordo. Honestamente, penso que o elemento chave para se envolver com o livro está no leitor e não no enredo da autora. Se você já sofreu grandes perdas emocionais, reviravoltas financeiras, dificuldades de se "ajustar" ao mundo em geral, você certamente compreenderá perfeitamente a história da jovem Esther Greenwood. Particularmente, eu já convivi intimamente com a depressão e fiquei completamente abismada com a acuidade na personificação de depressão da autora. Sylvia Plath sofria de depressão e eventualmente acabou cometendo suicídio, portanto ela conhecia a doença de forma íntima. Mas entre sentir algo e conseguir colocar este sentimento objetivamente em palavras existe um abismo chamado literatura. E Plath escrevia literatura em cada palavra, frase e diálogo.
"I took a deep breath and listened to the old brag of my heart.
I am, I am, I am."
"The silence depressed me. It wasn't the silence of silence. It was my own silence."
É fácil entender a razão de o livro ter se tornado um símbolo do movimento feminista. Essa não é apenas a história de uma jovem perdendo a sanidade, mas uma reflexão bem aprofundada sobre o papel feminino na sociedade e as pressões vividas pela mulher. É estranho pensar que a despeito de o livro ter sido escrito há mais de cinquenta anos atrás, as mulheres ainda vivem sob pressões similares. A diferença é que hoje ainda existem mais expectativas pesando sobre o sexo feminino. Ainda se espera que a mulher cuide de seu lar, filhos e marido, mas no mundo moderno há a necessidade de ser bem sucedida profissionalmente. Ah! E não posso esquecer! Estar bonita e aparentando sempre menos idade se não as pessoas a apontam como desleixada e ela corre o risco de perder o marido para alguém mais jovem. Uffs! Ser mulher só se torna mais complicado. Esther, a protagonista, é uma feminista nata e dá voz ao individualismo ansiado pelo feminismo. Ela não está satisfeita com as regras e padrões hipócritas sobre virgindade e casamento.
"I couldn't stand the idea of a woman having to have a single pure life and a man being able to have a double life, one pure and one not. Finally I decided that if it was so difficult to find a red-blooded intelligent man who was still pure by the time he was twenty-one I might as well forget about staying pure myself and marry somebody who wasn't pure either. Then when he started to make my life miserable I could make his miserable as well."
"What i hate is the thought of being under a man's thumb[...] A man doesn't have a worry in the world, while I've got a baby hanging over my head like a big stick, to keep me in line."
Ao terminar o livro eu realmente me dei conta de que a trama nos instiga a refletir e tirar as nossas próprias conclusões sobre a obra. Acredito que cada pessoa agrega a mensagem do livro à suas próprias experiências e assim terá uma perspectiva diferente da que eu construí. Mas seja qual for a sua opinião sobre "The Bell Jar", você não ficará impassível perante a prosa de Sylvia Plath
E esta é a história de uma jovem que enfrentou a maior batalha que um ser humano pode encarar. Eventualmente na vida somos antagonizados por alguém ou desafiados por uma situação. Doenças, violência doméstica, trabalhos com péssima remuneração, pessoas que querem nos fazer mal, tragédias que nos atingem sem aviso prévio. Tantas coisas podem acontecer, tantas coisas externas podem trazer lutas para as nossas vidas. Afinal, isso é a vida. Mas a "redoma de vidro" ("The Bell Jar", como Sylvia Plath se refere ao estado de depressão) é uma batalha contra um inimigo interno. O que acontece quando você não consegue sair da cama pela manhã? Quando não consegue encontrar prazer em coisas que costumava amar? Quando você não consegue sentir nada por que aquilo que faz de você alguém, suas qualidades e defeitos, vontades, sonhos, tudo aquilo que o faz estar vivo permanece preso em uma redoma de vidro. Digo tudo isso como alguém que vivencia a depressão de forma muito, muito real. A implicação mais triste da depressão é que é uma condição que nos paralisa, nos deixa vulneráveis e incapazes de evoluirmos em nossa capacidade total.
Pelo tom desta resenha fica claro que o livro não explora um tema simples ou leve. "The Bell Jar" não é uma leitura de entretenimento. É um livro para estimular a mente, incentivar o leitor a embarcar em uma viagem interior. Portanto, se você não se sente preparado para esse tipo de narrativa... espere. Espere para ler quando as palavras de Plath realmente farão sentido para você. Mas, por favor, por favor, não deixe de ler em algum momento da sua vida. Especialmente as leitoras mulheres. Vocês descobrirão uma perspectiva totalmente nova da condição feminina.
"To the person in the bell jar, blank and stopped as a dead baby, the world itself is the bad dream.
A bad dream.
I remembered everything.
Maybe forgetfulness, like a kind snow, should numb and cover them. But they were part of me. They were my landscape."
Estou tão encantada por Sylvia Plath que já reservei outros livros de poema da escritora e uma publicação original com seus diários pessoais.