Principal avaliação positiva
5,0 de 5 estrelasUm dos melhores livros que já li
26 de outubro de 2018
O mestre e a Margarida é um dos livros mais completos que tive a felicidade de ler. É uma alegoria em tom fantástico sobre o regime socialista soviético, mas também é completado por uma história realista sobre a Paixão de Cristo, apesar de bem diferente do que qualquer um esteja acostumado; é também uma história sobre a condição humana, suas fraquezas e seus defeitos, mas acima de tudo é uma história sobre o poder do amor. E neste ponto a história se torna um tanto autobiográfica, pois a história de amor entre o mestre e a Margarida que Bulgakhov descreve é a sua história e de sua amada que chega ao limite de perder a sanidade por causa do livro que escreveu, mas não devemos nem podemos resumir este livro a uma autobiografia.
Com um humor negro incrível, o autor tece críticas à sociedade soviética de forma magistral, mostrando através dos passos da comitiva do diabo a decadência daquela sociedade em que a arte foi pervertida pelo poder absoluto do estado; em que as pessoas fingem acreditar no sistema, mas não cooperam com ele, como por exemplo as pessoas que ocultavam os seus bens como um reflexo racional devido à decadência em que aquele sistema as lançou; mas acima de tudo, mostra que aquele sistema social não funciona, e se aparenta funcionar é porque é imposto às pessoas e não uma escolha individual delas, pois quando têm essas escolhas, elas sempre escolhem o contrário.
Há ainda outras críticas mais sutis, quando, por exemplo, o autor narra o desaparecimento de pessoas de apartamentos como algo sobrenatural, apelando para o fantástico, mas apenas para tecer outra crítica àquele sistema que torturava e matava as pessoas às quais ele não concordava, sendo a morte considerada apenas um simples desaparecimento da sociedade.
Há, também, uma miríade de personagens com personalidades diferentes que passeiam pelo livro. E é muito fácil o leitor se perder com quem é quem, mas não é nada desagradável, pois te remete a reler algum trecho, e acredite cada trecho desse livro é sensacional. Além das personagens do mestre e da Margarida que ganham mais espaço na segunda parte do livro, outros personagens que se destacam é o diabo e sua trupe. E o diabo do texto não é o que estamos acostumados, aqui ele não é aquele ser completamente diferente de Deus. O diabo parece no texto ser uma representação da própria necessidade humana: necessidade de liberdade, de escolha, de beleza, de completude. Ele não é um ser essencialmente mal, ele quer apenas desfrutar do seu dia, e no livro ele é tudo o que o sistema quer impedir, a personificação da maldade. Assim, o livro ganha um aspecto novo, pois aquela sociedade socialista que representaria o bem e tenta eliminar a maldade, no fundo no fundo, ele é a própria maldade ao combater e oprimir a essência humana. No livro o leitor perceberá que o diabo ali não é a maldade, mas apenas o cidadão que quer ser livre e deseja o mesmo a todos; assim será fácil definir quem de fato é o mal.
Mas como disse antes, esse é um livro sobre o amor, do amor entre o mestre e a Margarida que vence as barreiras do tempo e espaço, da loucura e sanidade, do certo e errado, da vida e da morte. A história de amor entre eles fará o leitor perceber que o amor é o que temos de mais poderoso no mundo, é o que nos fortalece e pode nos guiar através dos tempos mais turbulentos possíveis, é o que nos faz permanecer sãos em tempos de loucura, é o que nos faz permanecer vivos, mesmo quando mortos.