Principal avaliação crítica
1,0 de 5 estrelasProposta não pacífica
Avaliado no Brasil em 9 de agosto de 2020
Não é nada inspirador para quem promove a paz constatar que uma pensadora propõe “reflexões” e ações coletivas pelo princípio de culpabilização do outro, como é feito neste livro. Não me parece apropriado sugerir que a conduta pessoal e o próprio trabalho em pleno século XXI devam estar fundamentados na estratégia de imputar culpa ao outro pelo simples fato de ter pele branca. Há aqui uma clara contradição ao princípio da não-violência. Além disso, há ideias censoras abusivas, como quando recrimina a fala do outro ignorando a real intenção não ofensiva; ou quando tenta invalidar sentimentos amorosos entre pessoas de cor de pele diferente (assunto de foro íntimo exposto à crítica pública). Trata-se de uma obra cujo conteúdo é uma estratégia político-social equivocada com grandes chances de afastar mais ainda as pessoas e, se levada a sério, o livro se tornará um manual para fomentar o ódio contra os brancos. Culpabilizar o outro não gera respeito, gera resistência e afastamento. As novas gerações do século XXI já não se satisfazem com militância política, por isso ficam cada vez mais frustradas quando embarcam em uma ideologia. As novas gerações são mais sensíveis, querem respeitar o outro movidas pela simples e natural compaixão. E a linguagem da militância identitária as deixa com sensação de perturbação e desconforto. Acham falsamente que irão diminuir o desconforto intensificando a militância contra as coisas erradas do mundo e descobrem que só aumentaram a frustração. Por outro lado, respeito gera aproximação, aproximação gera aceitação, aceitação gera parceria e parceria gera inclusão, pertencimento e satisfação na vida. Quando as novas gerações conseguirem se libertar de sistemas opressores como as militâncias ideológicas, identitárias e políticas, farão melhor uso da sensibilidade que lhes é natural no sentido de melhorar o mundo. Elas possuem elevado poder de compaixão que está sendo explorado e canalizado para a estratégia da militância, a fim de atender aos interesses de pensadores doutrinadores e censores. Pensadores que desejam moldar o mundo ao seu gosto, paradoxalmente falam em nome da liberdade e emancipação, mas censuram a vida e a história do outro. Críticas podem ser feitas, mas valorizando também o que o outro tem e fez de positivo, sem condená-lo como vilões da história. A defesa da vida, do bem-estar e da cultura de um grupo social é sempre louvável, mas há formas mais eficazes e respeitosas para fazer isso do que o proposto neste livro.