Principal avaliação positiva
5,0 de 5 estrelasO nosso Quixote
Avaliado no Brasil em 11 de julho de 2017
Policarpo Quaresma é o nosso Dom Quixote brasileiro, o nosso Ariano Suassuna da Ficção. Uma das melhores personagens que já tiver a oportunidade de conhecer, Quaresma é um idealista, patriota, resignado e ingênuo. Uma personagem que ama sua pátria e luta contra o estrangeirismo, sem jamais ser xenófobo. Que nos aponta a beleza desse país e luta para mudar a sua situação degradante, elevá-lo às alturas.
Numa nação em que na época do seu descobrimento, os brasileiros queriam ser portugueses, séculos depois, os brasileiros queriam ser franceses e na atualidade os brasileiros deseja ser americanos, este livro é muitíssimo importante. Apesar de todas as características da personagem, esse não é um livro ingênuo, página após página, nós percebemos porque nossa nação é uma “maquina de fazer estrangeiros”. Aponta os diversos e graves problemas daquela época e ainda presentes atualmente; mas ao vermos uma personagem decidida a lutar por uma nação alquebrada, a leitura acaba despertando um sentido patriótico.
O livro faz críticas abertas à administração da República, ao governo de Floriano Peixoto. Lima Barreto denuncia o clientelismo e servilismo presente nas repartições públicas, como generais que nunca foram a uma guerra, almirantes que não sabiam o paradeiro do seu navio, médicos que não sabe nada, administradores aduladores, etc. Funcionários Públicos que apesar de toda a inexperiência e aptidão eram promovidos indiscriminadamente somente pelo grau de bajulação.
Critica a posição da mulher naquela sociedade, onde deveria viver apenas para o casamento. Critica as juntas políticas e a titânica burocracia que são estorvos para os trabalhadores e geradores de riqueza. Crítica, ainda, o preconceito, ora explícito ora velado, da época, sobre a cultura, conhecimento e raça. Abaixo transcrevo uma frase do livro em que se pode verificar a crítica:
“Doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: ‘Se não era formado, para quê? Pedantismo!’”
Por fim, o livro é dividido em três partes. Em cada uma ele aborda um tema diferente e, dessa forma, pode-se ver um apelo a um tipo de reforma necessária nesse país: a primeira seria uma reforma cultura, a segunda uma reforma econômica e a terceira uma reforma política. Enfim, é um livro fundamental e, infelizmente, ainda atual.