Principal avaliação positiva
5,0 de 5 estrelasSensível e apaixonante
Avaliado no Brasil em 22 de junho de 2017
“Fique onde está e então corra!” é o segundo livro que leio de John Boyne, o primeiro foi o famoso “O Menino do Pijama listrado”. Ambos tem duas semelhanças: o pano de fundo são as guerras mundiais que aconteceram no século XX e o protagonista é uma criança com seu olhar puro diante do caos. Se você leu e amou o grande sucesso do autor, com certeza vai se apaixonar por esse livro também. Mais uma vez Boyne acertou em cheio na delicadeza em passar uma história fictícia, mas ao mesmo tempo tão real enfrentada por inocentes e suas famílias quando se vivencia uma guerra.
A sinopse do livro praticamente conta o que precisa saber sobre a história. Alfie é um menino inteligente, corajoso e bondoso que vê sua vida ser transformada quando seu pai vai para a Primeira Guerra Mundial. Georgie, o pai, se alista como voluntário a contragosto de toda sua família e Alfie acaba precisando conviver com uma nova realidade. Sua mãe, Margie, agora quase não para em casa, pois precisa sustentá-los e para isso trabalha dia e noite como enfermeira e lavando/costurando roupas para fora. Alfie, vendo o sacrifício da mãe, se aventura em trabalhar como engraxate em uma estação de trem. As únicas notícias que ambos tinham de Georgie chegavam através de cartas. Ele sempre escrevia, mas com o passar do tempo as cartas pararam de chegar, e o menino começou a suspeitar que havia algo de errado nisso. Aos poucos ele vai descobrindo o que aconteceu com seu pai e vai buscar forças para conseguir consertar tudo o que a guerra lhe causou e ter sua família de volta novamente.
Nesse período também vamos conhecer outros personagens que complementam a história e que não estão por acaso inseridos nela. Todos tem uma função, que de início não nos damos conta, mas à medida que a leitura se desenvolve, vamos percebendo a importância de cada um no contexto e ficamos maravilhados com a forma que foram estruturados e interligados pelo autor. Desses personagens, vou citar um que me conquistou, simplesmente pelo fato dele ter como guia os seus ideais e lutar por eles, independente do que possa acontecer. Estou falando do vizinho de Alfie, o Joe Patience.
Nosso protagonista também é outro personagem que nos inspira afeto e carinho. Muitas vezes dá vontade de abraçar Alfie e dizer o quanto ele é um menino muito especial. Sua pureza e sua coragem ganha o coração do leitor. Mesmo sendo uma criança, ele tem uma sabedoria que muito adulto não possuí e toda a sua trajetória em busca do pai é tão bem escrito, tão intenso e rico de sensibilidade, que nos envolve, como se fizéssemos realmente parte daquela situação.
Esse livro é narrado em terceira pessoa e tem várias passagens, tanto com Alfie como com os personagens secundários, que muitas vezes emocionam o leitor. Ele traz reflexões sobre a vida e sobre a sociedade. Alguns preconceitos referente as mulheres no início do século XX também é mencionado. Apesar de ser classificada como uma leitura infanto-juvenil, eu prefiro afirmar que é uma história levemente pueril com temas adultos e fortes escritos em uma linguagem fácil de forma sensível e apaixonante. Essa é a magia como John Boyne desenvolve suas histórias, inserindo assuntos mais profundos em um cenário real e doloroso ao mesmo tempo mantendo a sutilidade e inocência de uma criança. Acho a escrita dele simples e fascinante. O conteúdo humano que tem em cada personagem, cada capítulo, é tão enriquecedor e agrega ao leitor uma experiência única.
“Fique onde está e então corra!” fala sobre dor, perda, ausência, esperança, fé, coragem, empatia e acima de tudo, amor. Aquele amor genuíno, de família, de pai e filho, que vai muito além dos laços sanguíneos, mas sim de encontro de almas.