Principal avaliação positiva
5,0 de 5 estrelasUma "Ficção Real"
Avaliado no Brasil em 30 de setembro de 2019
Num futuro distópico, bombeiros têm a função de queimar livros (e, geralmente, também a casa dos donos das obras), mantendo a população "feliz", por meio de uma vida sem questionamentos, já que os livros gerariam teorias e pensamentos conflitantes, o que deve ser eliminado.
Em meio a isso, o personagem principal, um bombeiro chamado Montag, a partir de conversas com a adolescente Clarisse, que se mostra mais atenta a tudo que acontece, consegue sair da letargia dessa sociedade, na qual suicídios, assassinatos e a guerra são vistos de forma fria por uma população que se entorpece com a "televisão de parede".
Há passagens verdadeiramente icônicas: o filósofo Faber se ressente por ter previsto, anos atrás, tudo que aconteceria e permanecido inerte. Beatty, o chefe dos bombeiros, cita trechos inteiros de obras eruditas, mas as vê com total desdém, representando o controle e a autoridade que impõe a dominação das massas.
É especialmente impressionante ver Montag tentando entender a importância dos livros por meio de leituras apressadas em busca de respostas, sem entender porque as obras seriam tão temidas. Mal sabia ele que os livros são mais importantes (e temidos) pelas perguntas que geram do que pelas respostas que proporcionam e, justamente por isso, eram proibidos.
A arte de Tim Hamilton mostra-se ideal para a apreensão da história, já que ressalta um ambiente soturno e os rostos dos personagens, com exceção de Clarisse, sempre parecem apáticos, transparecendo o quão anestesiados eles vivem.
Fahrenheit 451 já foi adaptado também para o cinema e para a TV, no entanto, esta adaptação para os quadrinhos pode ser lida com proveito tanto por aqueles que já conhecem o livro ou as adaptações audiovisuais, quanto por aqueles que terão o primeiro contato com a história, já que a essência da obra de Ray Bradbury encontra-se mantida aqui, embora, como sempre ocorre com adaptações de livros, muitos que leram o romance poderão estranhar ou não gostar, por exemplo, de certas opções artísticas, especialmente quando elas não corresponderem às imagens mentais que o leitor forjou durante a leitura anterior do romance.
Na introdução, Ray Bradbury mostra como amadureceu as ideias para compor o livro e deixa ao leitor uma pergunta importante: qual livro você gostaria de memorizar/proteger de censores ou "bombeiros"? o meu seria a Divina Comédia, de Dante Alighieri, que expõe com lirismo poético as vicissitudes e os anseios mais profundos do ser humano de qualquer época.
E o seu? Qual seria?
Boas obras provocam questionamentos e reflexões, mais do que soluções, e Fahrenheit 451, nesta versão adaptada aos quadrinhos, mantém essa mesma capacidade, o que por si só demonstra o valor da história e sua atualidade.
Boa leitura!